não me atreveria a escrever sobre o amor,
escrever por amor é pesar a vértebra
maior no marfim dos dedos.
escrever por amor é amolar o dente
no osso da pele.
escrevo pernoitada de memória,
escrevo a cinza no clarão das achas.
escrevo nada, escrevo depois,
escrevo tudo, escrevo nunca,
escrevo pouco, e tanto escrevo
que nem morta o branco
morre
de boca cheia.
escrever por amor,
é derramar a boca de saliva
e alcalina.
escrever por amor,
é sofrer calada a sístole
e a diástole
nas metástases do peito.
o amor é só um conjunto de palavras complicadas
à espera de serem atraiçoadas pelo sangue,
pelos caroços,
pelo cancro,
pela doença,
pelo fim, pelo princípio.
amor findo e por findar.
amor pouco, amor nenhum.
amor tanto, amor ninguém.
amor resquício.
uma falsa palavra póstuma de promessas.