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sábado, 7 de fevereiro de 2009

caixão-de-música.


não me atreveria a escrever sobre o amor,

escrever por amor é pesar a vértebra

maior no marfim dos dedos.

escrever por amor é amolar o dente

no osso da pele.

escrevo pernoitada de memória,

escrevo a cinza no clarão das achas.

escrevo nada, escrevo depois,

escrevo tudo, escrevo nunca,

escrevo pouco, e tanto escrevo

que nem morta o branco

morre

de boca cheia.

escrever por amor,

é derramar a boca de saliva

e alcalina.

escrever por amor,

é sofrer calada a sístole

e a diástole

nas metástases do peito.

o amor é só um conjunto de palavras complicadas

à espera de serem atraiçoadas pelo sangue,

pelos caroços,

pelo cancro,

pela doença,

pelo fim, pelo princípio.

amor findo e por findar.

amor pouco, amor nenhum.

amor tanto, amor ninguém.

amor resquício.

uma falsa palavra póstuma de promessas.

anular a unidade, ficar com nada

- não, já não. ele não é um homem atraente. nunca foi.
- então porque é que te casaste com ele?
- ora. é um homem sério e influente. e eu queria ter filhos, queria constituir família.
- então e que diz ele do facto de vocês já não...
- parece não importar-se. mas não sou ingénua ao ponto de pensar que não o faz com outras pessoas.
- e tu?
- eu? eu passo bem sem isso.
- já não estás apaixonada por ele então...
- nunca estive. acho que nunca na vida me apaixonei. talvez não tenha encontrado a pessoa certa.
- isso é triste.
- sabes o que é mais triste? (falando mais baixo) acho que nunca tive um orgasmo.
- diz-me uma coisa, já alguma vez questionaste a tua orientação sexual?
- se já ques...... (ri muito alto) que disparate.
- não, a sério.
- ora, por favor! não me insultes.
- não era minha intenção insultar-te mas tentar fazer-te chegar ao cerne de toda a questão pondo-te perguntas que se calhar nunca te puseste.
- esta conversa está a enojar-me. mudamos de assunto?
- se te incomoda... consideras-te uma pessoa feliz?
- não.
- e porque não?
- há pessoas que têm de fazer o que têm de fazer e eu tenho filhos para criar. para além disso, a felicidade é uma invenção moderna. no tempo dos meus pais, ninguém perguntava a ninguém se era feliz ou se os membros do casal se amavam. as pessoas casavam-se porque era assim que tinha de ser.
- mas não é assim que tem de ser. a felicidade é possível. não é permanente, mas é possível.
- disparates. vê-se mesmo que não tens filhos.
- sabes, acho que é possível que percebas que a tua vida foi um erro terrível quando já não puderes fazer nada para o remediar. já imaginaste pior fim de vida do que o absoluto arrependimento? ainda és jovem. podes ainda parar para pensar sem medo de perscutar as tuas motivações mais profundas. seja o que fôr que encontres dentro de ti, mais vale viver de acordo com isso do que contra-corrente. é uma das únicas coisas a que podemos aspirar nesta vida: o auto-conhecimento. e com isso, concerteza, alguma felicidade. algum bem-estar, no mínimo.
- (emocionada) não percebo porque é que me estás a dizer estas coisas...
- é frustrante que as pessoas não possam ser avisadas, que só compreendam as coisas no tempo delas. (suspira) mudemos de assunto. o trabalho? como vai?

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

o segredo.

ele sussurrava
não por respeito pelas pessoas em volta
mas porque era condição
que ninguém senão ela
ouvisse
aquilo que estava prestes a dizer


quando as palavras
que aos ouvidos brancos dela escolhera dar
acabaram de ser pronunciadas
ensimesmou-se com agudeza

olhando-o profundamente
ela nada disse.
esse silêncio
era na língua deles
as palavras que se ouviram

pourquoi tu me dis ca?

eram outra língua

porquoi tu me dis ca na boca dela
foi repetição automática
de espanto pela suspeita sintonia
da tela (que os observava?)

ele que não tinha ainda
desviado dela o olhar
deixou-se ficar
na expectativa da espera


até saírem. lá fora
o momento que a memória

escolheria para se fixar:

a saia dela. antes de desaparecer a sobrar

da derradeira esquina que a engoliu.
hoje foi fevereiro outra vez



fevereiro nunca existiu.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

maravilhas do stumble, para a anisotrópica.

rope-made heart

o amor é uma corda

Curta

Ao lançar-se o amador fica

Pendurado

A longos metros do chão

//

O prédio é velho e está

Vazio

O amor é uma corda

Velha

Deixada a balançar ao sabor de uma

Brisa

Vinda do descuido de uma porta

Entreaberta

//

O amor é uma corda

Suspensa

A longos metros do

Chão

//

O amador é a única vítima da sua

Audácia

O objecto-amado não vem em seu

Socorro

Quem saberá dizer da sua real

Existência

Dependurado debate-se em

Dilemas

Toma a audácia por falta de juízo

//

E

Quando a brisa torna

Equaciona ao contrário o pensamento

Toma a falta por audácia

Quem saberá resolver ao dar

Uma resposta

//

O amador debater-se-á

Sempre

Sem a largar

Por medo de que a

Queda

Uma vez iniciada se prolongue para além do

Chão

.


terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

woody pt. II

“To love is to suffer. To avoid suffering, one must not love. But then, one suffers from not loving. Therefore, to love is to suffer; not to love is to suffer; to suffer is to suffer. To be happy is to love. To be happy, then, is to suffer, but suffering makes one unhappy. Therefore, to be happy, one must love or love to suffer or suffer from too much happiness.”


o mais absurdo é que tem razão.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

atópica barcelona


«Maria Elena used to say that only unfulfilled love can be romantic.»

fuck you, carla bozulich.


esta semana vi, pela terceira vez, um concerto de carla bozulich.
acabei exausta de me conter, as pernas dormentes, uma vontade terrível de dizer todas as asneiras e/ou afundar-me nas nuvens ilusórias de um efeito narcótico.
a primeira vez que assisti a um concerto dela descontrolei-me de tal forma que quando ela se aproximou de nós, depois do concerto, mandei-a
fuck you!!!
ir dar uma volta e desatei a chorar. quando cheguei lá fora, tive de me sentar por não me conseguir aguentar nas pernas.
what is wrong with her...?
de todas as vezes, um nó na garganta. qualquer coisa que se desvenda e vai fundo, como uma âncora a ser lançada no vazio. o vazio sou eu e aquela âncora parece saber mais dos meus caminhos interiores do que eu.
when there's no hope, when there's no hope left
there's only one word
a palavra-catarse é representada. no palco, há rugidos, rasganço, queda e eu, ali em frente, sinto-me como se me estivessem a encher de dor, à minha revelia. é de lutar contra isso que me há-de doer o corpo todo no fim.
can you say it with me
mas quando aquele sino se ouve... quando aquele sino se ouve como que a preconizar uma condenação, esse é o momento de baixar os braços, de desistir, ela vem aí, o momento mais intenso ainda não foi, ainda é aquele. como se fosse possível.
desta vez, quando ela veio, eu estava à espera que viesse. desta vez, quando ela veio agarrámo-la. gerou-se uma corrente de electricidade, uma onda de calor percorreu os corpos unidos num abraço, tudo em nós tremia, tudo em nós suava,
no fim, senti-me como se tivesse sido brutalmente espancada.
can you say it with me
há qualquer coisa de muito especial nesta mulher. e eu acho que é a garra do sobrevivente. a garra e a raiva.
the word is love.