sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

o segredo.

ele sussurrava
não por respeito pelas pessoas em volta
mas porque era condição
que ninguém senão ela
ouvisse
aquilo que estava prestes a dizer


quando as palavras
que aos ouvidos brancos dela escolhera dar
acabaram de ser pronunciadas
ensimesmou-se com agudeza

olhando-o profundamente
ela nada disse.
esse silêncio
era na língua deles
as palavras que se ouviram

pourquoi tu me dis ca?

eram outra língua

porquoi tu me dis ca na boca dela
foi repetição automática
de espanto pela suspeita sintonia
da tela (que os observava?)

ele que não tinha ainda
desviado dela o olhar
deixou-se ficar
na expectativa da espera


até saírem. lá fora
o momento que a memória

escolheria para se fixar:

a saia dela. antes de desaparecer a sobrar

da derradeira esquina que a engoliu.
hoje foi fevereiro outra vez



fevereiro nunca existiu.

Um comentário:

  1. um dia apostei que determinados meses não passavam de lamúrias silenciosas dedicadas ao que supostamente todos chamavam de amor. ganhei.

    *

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