ele sussurrava
não por respeito pelas pessoas em volta
mas porque era condição
que ninguém senão ela ouvisse
aquilo que estava prestes a dizer
quando as palavras
que aos ouvidos brancos dela escolhera dar
acabaram de ser pronunciadas
ensimesmou-se com agudeza
olhando-o profundamente
ela nada disse.
esse silêncio era na língua deles
as palavras que se ouviram
pourquoi tu me dis ca?
eram outra língua
porquoi tu me dis ca na boca dela
foi repetição automática
de espanto pela suspeita sintonia
da tela (que os observava?)
ele que não tinha ainda
desviado dela o olhar
deixou-se ficar
na expectativa da espera
até saírem. lá fora
o momento que a memória
escolheria para se fixar:
a saia dela. antes de desaparecer a sobrar
da derradeira esquina que a engoliu.
hoje foi fevereiro outra vez
fevereiro nunca existiu.
Há 15 anos
um dia apostei que determinados meses não passavam de lamúrias silenciosas dedicadas ao que supostamente todos chamavam de amor. ganhei.
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