sábado, 7 de fevereiro de 2009

anular a unidade, ficar com nada

- não, já não. ele não é um homem atraente. nunca foi.
- então porque é que te casaste com ele?
- ora. é um homem sério e influente. e eu queria ter filhos, queria constituir família.
- então e que diz ele do facto de vocês já não...
- parece não importar-se. mas não sou ingénua ao ponto de pensar que não o faz com outras pessoas.
- e tu?
- eu? eu passo bem sem isso.
- já não estás apaixonada por ele então...
- nunca estive. acho que nunca na vida me apaixonei. talvez não tenha encontrado a pessoa certa.
- isso é triste.
- sabes o que é mais triste? (falando mais baixo) acho que nunca tive um orgasmo.
- diz-me uma coisa, já alguma vez questionaste a tua orientação sexual?
- se já ques...... (ri muito alto) que disparate.
- não, a sério.
- ora, por favor! não me insultes.
- não era minha intenção insultar-te mas tentar fazer-te chegar ao cerne de toda a questão pondo-te perguntas que se calhar nunca te puseste.
- esta conversa está a enojar-me. mudamos de assunto?
- se te incomoda... consideras-te uma pessoa feliz?
- não.
- e porque não?
- há pessoas que têm de fazer o que têm de fazer e eu tenho filhos para criar. para além disso, a felicidade é uma invenção moderna. no tempo dos meus pais, ninguém perguntava a ninguém se era feliz ou se os membros do casal se amavam. as pessoas casavam-se porque era assim que tinha de ser.
- mas não é assim que tem de ser. a felicidade é possível. não é permanente, mas é possível.
- disparates. vê-se mesmo que não tens filhos.
- sabes, acho que é possível que percebas que a tua vida foi um erro terrível quando já não puderes fazer nada para o remediar. já imaginaste pior fim de vida do que o absoluto arrependimento? ainda és jovem. podes ainda parar para pensar sem medo de perscutar as tuas motivações mais profundas. seja o que fôr que encontres dentro de ti, mais vale viver de acordo com isso do que contra-corrente. é uma das únicas coisas a que podemos aspirar nesta vida: o auto-conhecimento. e com isso, concerteza, alguma felicidade. algum bem-estar, no mínimo.
- (emocionada) não percebo porque é que me estás a dizer estas coisas...
- é frustrante que as pessoas não possam ser avisadas, que só compreendam as coisas no tempo delas. (suspira) mudemos de assunto. o trabalho? como vai?

Um comentário:

  1. às vezes gostava de alterar o percurso natural das cabeças das pessoas. têm todas uma tendência estúpida em cair na facilidade.

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