segunda-feira, 23 de março de 2009

planetas alinhados, corações num desalinho.



Foi como atingir uma galáxia de cores leitosas e astros hexadecimais, foi como voltar à infância e mastigar com os dedos esferovite e bolhas de ar. Os dentes arpeados num metalofone curvado entre os beiços, a íris farta de luz e chispas e achas e um fio de vazio serpenteado no firmamento. E de repente. A intranquilidade das estrelas, siderais e gasosas, estrelas póstumas de sossego no semblante cativo da noite. E de repente. Um verde amarelecido pelo Sol, o olhar vagaroso nas pálpebras fechadas de estranhos, um percorrer com as mãos a terra desfeita em poros secos. Atingir aquela galáxia longínqua e sentir-me a falta, redescobrir que sou, que sou, que sou isso. Pó liquefeito em pedaços de pó e palavras inventadas. E depois. Depois imaginar a Sarah Neufeld envergando um vestido cintado como um sabre, a cor láctea e flamejante do cosmos, a Sarah Neufeld repercutindo o fim e o princípio numa ária de madeira, a Sarah Neufeld ziguezagueando entre as cordas maciças, a Sarah Neufeld encavalitada nas suas próprias mãos de chama. E eu. E a Sarah Neufeld. Com o seu ar de criança nórdica, fugaz como um astro que desenterra do instrumento centelhas brancas e éguas negras. E antes. Antes acordei. E o Jacinto do Eça desassossegado nos seus dias maçudos e cavernais. E o universo, aqui, na gaveta à espera de acontecer. E eu. Eu não sei. A parir quimeras e equinócios porventura.

Que nos seja bondosa esta semana. Janelas abertas astronautas. Bon voyage.

Bell Orchestre em As Seen Through Windows


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