Ela levantou o auscultador-estetoscópio do meu peito, eu falei:
Escuta, eu quero passar o resto da vida abeirada na ponte japonesa que arqueia ao fundo dos nenúfares, entre aquelas flores híbridas, água cansada no reflexo roxo vivo de sol. É esse o meu lugar, um jardim liquefeito em motins de luz púrpura, uma vida e um só amor, calada no desassossego dos estranhos. Eu tenho uma vida inteira por dedicar, a alguém, a algo. Tantas palavras difíceis que não sei dizer de um modo mais sincero. Ouves-me?
Giverny e os jardins de Monet?
Giverny ao abrigo do teu coração. Giverny. Giverny na ponta dos pés no alto do teu beijo. Giverny nos teus olhos aos pedaços de níquel e purpurina. Eu quero engolir as palavras e morrer em silêncio. Eu não quero mais nada. Quero tão pouco. Entendes-me?
Devagar.
Não. Agora. Para sempre. Tudo. Inequívoco. Sem língua ímpar de sílabas aguerridas a par e passo. Agora. Descalça de boca e mãos truncadas. Compreende.
E eu?
Tu e eu. Nos jardins e na casa que deus fez à semelhança do seu fim.
E morreremos juntas?
Mortas só o que a terra cobrar ao osso e à carniçaria dos bichos.
E o medo, e a solidão, e a ilusão, e a expectativa, e o depois e quando e tanto e antes e se o rio estancar no verdume das rochas desfeitas em palacetes de papel?
Eu voltarei com a chave levada ao peito e a palavra apalavrada de promessa.
Eu voltarei abandonada de solidão no levante dos teus braços.
Eu regressarei para ti. Sempre.
Ela poisou a voz na côncava do meu fôlego e amá-mo-nos aos segredos de nada.
Para sempre é a palavra que a solidão consente.
'ui' prá palavra da semana.
ResponderExcluira palavra da semana bem podia ser pj harvey. o meu disco rigido morreu, 150 gigas de mp3s. estou desolada :' ( ao menos não morreu só, viveu uma vida de emoções binárias incríveis.
ResponderExcluirlol. tava aqui a pensar naquele epitáfio que ali puseste e a pensar o que seria um WD...
ResponderExcluir150 gigas de música? deus. não sei a quem saíste tão pirata. coff. a nadler também roda aqui ;)