O tempo é uma locomotiva de poros ardentes, espirais que se comovem no céu em centelhas de pele, branco que arde no alto das cópulas verdes. Relâmpagos de árvores e ânforas de papel, o tecto dos teus olhos preso para sempre aos ladrilhos das minhas mãos. O tempo é um neologismo moderno, duas premissas cariadas no chumbo da boca, negro que vaza no tormento da casa. O tempo, meu amor, o tempo sem mais tempo. O tempo, meu amor, o tempo sem outro tempo. A escassez do nada no telhado do corpo, pó e fumo, cinza na ladeira dos dentes. A cadeira, a janela, a sola de borracha na carne da soleira de madeira. O tempo espera, meu amor, mas nós, nós nunca meu amor. À noite, o amor condescende entre as orlas cinzentas do teu cabelo, à noite e só de noite, o amor ilumina os fotões de água no orvalho do parapeito. Depois, a manhã leva-nos a alma à hora crepuscular do vazio. E o tempo, a quem escreve, a ninguém meu amor. Que nos sobrem apenas os segundos arborescentes que duram a eternidade ínfima da alvura verde dos teus olhos.
Há 14 anos
Nenhum comentário:
Postar um comentário