sábado, 7 de fevereiro de 2009

caixão-de-música.


não me atreveria a escrever sobre o amor,

escrever por amor é pesar a vértebra

maior no marfim dos dedos.

escrever por amor é amolar o dente

no osso da pele.

escrevo pernoitada de memória,

escrevo a cinza no clarão das achas.

escrevo nada, escrevo depois,

escrevo tudo, escrevo nunca,

escrevo pouco, e tanto escrevo

que nem morta o branco

morre

de boca cheia.

escrever por amor,

é derramar a boca de saliva

e alcalina.

escrever por amor,

é sofrer calada a sístole

e a diástole

nas metástases do peito.

o amor é só um conjunto de palavras complicadas

à espera de serem atraiçoadas pelo sangue,

pelos caroços,

pelo cancro,

pela doença,

pelo fim, pelo princípio.

amor findo e por findar.

amor pouco, amor nenhum.

amor tanto, amor ninguém.

amor resquício.

uma falsa palavra póstuma de promessas.

6 comentários: