terça-feira, 28 de abril de 2009

niilismo

Tenho já os olhos cansados de ver, os ouvidos já exaustos de ouvir, a cabeça tão cansada dos dilemas, das questões, e ainda a vida se atreve, impávida, a dançar à minha volta num zum-zum contínuo. Sou um rochedo erguido do solo. Quero ser inamovível.
Às pessoas em geral, ao colectivo, só há a disparar uma bala. Todos os dias no metro, nas ruas, em todo o lado atropelando-se, acotovelando-se, correndo de uns sítios a outros, relembrando-me, e a quem pára para ver, o quão desgastante é saber que nada disto é significante. O movimento não é significante. As tarefas não são significantes. Não são significantes as finanças ou os bancos. O trabalho ou os correios. Pelo colectivo uma bala gritaria indiferença. Sou um rochedo erguido do solo.
Sentar-me num telhado e saber que não param, que ninguém pára e que tudo tende a ganhar cada vez mais uma velocidade de luz.
No outro dia, uma menina de cinco anos apontava para um telefone fixo e perguntava o que era. Não sabia, nunca tinha visto. E eu vestida de cansaço, sei-me a envelhecer. As maiores palavras da vida vão perdendo o seu significado. Não há em 'liberdade' uma gota de 'esperança'. Não há em 'paz' um bocadinho de 'realidade'. Não há na 'memória', 'felicidade' alguma.
Neste festim esgotado, não há nada de novo. Sou inamovível.

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