Querido nada,
Eu queria conhecer-te porque tenho o vazio no lugar dos móveis e os móveis no lugar do silêncio. Eu queria conhecer-te porque tenho o silêncio no lugar dos olhos e os olhos calados no lugar do vazio. Eu queria conhecer-te e honrar a palavra ao invés do medo, dizer antes que o depois feito tarde. Queria agora e tanto mais que o agora não chega a horas de revirar os ponteiros na travessa do esqueleto. Mas eu não vou dizer nada acerca do tudo que nunca se adianta, vou ficar intercalada entre o pêndulo da tua mão e o hemisfério das tuas pernas. És tão bonita, direi, no entanto, querido amor porvir, esquecer-me-ás como quem se desculpa da cadeira com o guardanapo no recanto da boca. Dirás, és tão bonita, no entanto, querido amor porvir, esquecer-te-ei como quem se ausenta da mesa com o prato cheio na serrilha da faca. Eu queria conhecer-te porque tenho o vazio dos dias contados por cada noite em que me abandono de solidão. Eu queria reconhecer-te e desconhecer-me no reflexo das tuas palavras ocas de eco. Eu queria tudo, mas o barqueiro cobra dois tostões, um por cada pálpebra cerrada no poço dos meus olhos. Dois tostões pela riqueza do meu vazio. Puta que o pariu. E puta da sorte que me cobriu.
belíssimo :}
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